Como uma feira de velharias revelou a arte do copy
A história de um passeio que se transformou numa lição de copywriting.
Este fim de semana, a seguir ao almoço, fui dar um passeio ao centro de Ponte de Lima, uma belíssima vila medieval portuguesa, encaixada no Baixo Minho. Junto às águas do rio Lima, estava a decorrer a habitual feira de velharias da região. Dezenas de feirantes, expunham objetos de outros tempos, desde livros, vinis, atoalhados, máquinas e rádios.
Entre dezenas de expositores era difícil captar a atenção do público.
Para quem não conhece muito bem esta região de Portugal, posso dizer-vos que Ponte de Lima é um polo importante para o turismo nacional. Aos Sábados e Domingos, a vila enche-se de portugueses e estrangeiros que respiram o sabor e as vistas de tempos medievais.
Assim, no corredor de árvores junto à Igreja dos Terceiros, centenas de pessoas juntam-se, todos os domingos, para ouvir a dançar as tradicionais músicas minhotas, enquanto fazem compras na feira. É um magote de pessoas, que aqui encontra um ponto de fuga para a sua semana de trabalho.
Percorri esse corredor, olhando atentamente as velharias expostas: umas chamavam mais atenção do que outras.
Um olhar afiado para a avaliação de objetos históricos, permite rapidamente perceber o que vale comprar, e o que não compensa. Gosto sempre de fazer este jogo de análise e, por exemplo, descobrir livros raros por entre o magote de coisas que se vendem nestes locais.
O stand que conquistou a feira com criatividade
Andei, andei e andei até parar num stand que me chamou a atenção, por causa de uma música dos anos ´60 que estava a tocar num rádio e gira-discos antigo da mesma época. Com um aspeto retro, o pequeno móvel exibia a beleza e a robustez dos outros tempos (sou uma apaixonada pelos anos ´50 e ´60). Quem estava a expor naquele stand teve a feliz ideia de, não apenas mostrar o que tinha para vender, mas efetivamente, colocar tudo a funcionar como antigamente.
E ali estava aquele rádio e gira-discos a tocar tão bem, como em 1960.
Chamar a atenção do público através do uso de palavras criativas
O copy está presente em todos os aspectos da vida. Não é apenas uma ferramenta de marketing usada, por exemplo, na escrita de conteúdos. O copy serve para vender tudo. Mas tudo, mesmo!
Por cima do rádio de 1960 de que vos falei, os donos do stand tinham colocado um aviso: “Um rádio é igual à mulher do amigo: a gente olha, admira, mas não mexe”. Dezenas de pessoas paravam aqui para admirar a música e ler a frase chamativa, que conseguia captar a atenção pela risada que despoletava nos visitantes.
Criou-se assim o copy perfeito:
• a música aliada ao antigo: colocar os objectos a funcionar numa feira de velharias, tal como no tempo em que foram criados/ fabricados, é uma ótima ideia;
• um copy criativo, capaz de fazer as pessoas parar no stand é outra ideia excelente para se destacar na multidão.
Copy e conteúdo: o segredo para se destacar
O stand dos rádios e gira-discos retros dos anos ´60 fazia furor na feira de Ponte de Lima. Toda a gente parava para admirar um pequeno móvel de onde saía música do tempo de Frank Sinatra. Tinha-se criado o pacto de vendas mais completo daquele local.
Lições de marketing escondidas no quotidiano
O meu passeio de domingo pela feira de Ponte de Lima tornou-se uma valiosa lição de criação de conteúdo, aliado ao copy.
Afinal, como vender um rádio retro, numa feira com centenas de pessoas, onde se encontram à volta de cinquenta pessoas, competidores diretos teus, a expor coisas muito semelhantes às tuas? A única forma de nos diferenciarmos, é inovarmos.
O dono de um stand de um expositor de livros antigos, poderia ter comprado um manequim de loja, enquanto o sentava numa cadeira e este fingia que estava a ler um livro de 1910. Ou alguém que estivesse ali a vender um daqueles ferros a carvão, poderia mostrar aos visitantes, como todos estes objetos funcionavam a carvão, em 1950. A imaginação é o limite!
As palavras acompanham a apresentação visual do produto que estamos a tentar vender. Neste caso do rádio, uma observação certeira e divertida, bastou para captar a atenção do público.
Retirei valiosos insights desta experiência.
Uma das coisas que me dá particular gozo, é recorrer aos exemplos da nossa vida cheia de rotinas e desmontá-la em evidências, que ficam escondidas sobre a cadência dos dias.
Muita coisa nos passa ao lado, devido à repetição dos mesmos gestos, comportamentos e decisões. Mas, por vezes, entre esses dias que parecem infinitos, existe uma lufada de ar fresco, que nos relembra que a vida é uma constante renovação de ideias.