
O que é o Storytelling em geral e o Storytelling para Negócios?
Em 1985 (o ano em que nasci), não existia Internet. O mundo era extremamente silencioso: quase que se podiam ouvir as folhas a cair ao chão no outono. Era um tempo de contemplação. Sou hoje em dia muito grata por ter vivido nesse mundo. Um mundo onde se podia escutar, ler e comunicar com tempo: o que, para mim, significa viver com sabedoria.
Hoje em dia, contudo, vivemos num mundo cada vez mais saturado de informação, onde se torna extremamente difícil captar a atenção das pessoas. Por isso mesmo, e mais do que nunca, é essencial saber contar uma boa história que nos traga um pedaço da humanização que se perdeu no meio do ruído.
É aqui que entra o storytelling – um método de escrita poderoso que vai muito além da simples partilha de histórias. É uma estratégia que está a revolucionar a vida das pessoas e os seus negócios, ao transformar a comunicação com clientes, numa nova forma de as marcas se posicionarem no mercado.
Já ouviram falar no Storytelling para Negócios?
Mas afinal, o que é isto do Storytelling? E especificamente, o que é o storytelling para negócios?
O Rockcontent diz-nos que o «Storytelling é um termo em inglês. “Story” significa história e “telling”, contar. Mais do que uma mera narrativa, storytelling é a arte de contar histórias usando técnicas inspiradas em roteiristas e escritores para transmitir uma mensagem de forma inesquecível”. Storytelling é, portanto, no seu sentido mais puro, a arte de contar histórias.
Longe vão os tempos, em que as empresas se limitavam a publicitar os seus serviços ou produtos. Hoje em dia, a acérrima competitividade, tem elevado a fasquia dos negócios que precisam, cada vez mais, de encontrar formas criativas para vender.
A criatividade tem de facto, hoje em dia, um papel importantíssimo para os negócios e as empresas, que se querem posicionar de forma diferenciada no mercado. Daí, a necessidade de apostar em ferramentas criativas como a escrita e a utilização de narrativas autênticas e emocionais, para envolver o público. É através de histórias inspiradoras que, muitas vezes, conseguimos alcançar as pessoas, contando-lhes o percurso e os valores das marcas.
Há muitas empresas em Portugal que utilizam o storytelling como forma de promover o seu diferencial, face à concorrência: estou a lembrar-me da Delta Cafés que possui uma mensagem humanizada ao valorizar a relação com os clientes através deste lema: “Um Cliente, um Amigo”.
A marca define-se como símbolo de empreendedorismo e da capacidade de inovação em Portugal, ao mostrar que tem uma especial relação com uma chávena de café. É esta chávena de café que promove a proximidade com os seus clientes e é ela que define o espírito da marca: de todos e para todos.
O storytelling começa quando, por exemplo, pegamos numa chávena de café para contar uma boa história. Uma história que envolve e que projecta inspiração nas pessoas que, de uma forma humanizada, se conectam com a marca. Chegadas aqui, estão mais predispostas a conhecer os produtos que a mesma tem para lhes oferecer.
Hoje não se querem discursos técnicos nem promoções diretas e agressivas. O storytelling é muito mais poderoso que isso, ao despertar emoções, convidando assim à empatia, ao tornar a mensagem numa poderosa memória. E como se diz, e bem, as pessoas hoje não compram apenas produtos: compram histórias e experiências.
Por que é que hoje o storytelling é tão importante?
Vivemos na era da atenção fragmentada e do ruído da informação.
Mais facilmente somos levados pelo scroll no telemóvel que nos expõe, em poucos segundos, a centenas de marcas e de mensagens, do que a um livro, que exige algum silêncio e tempo. De facto, a atenção fragmentada não é sinónimo de maior agilidade para apreender conceitos diferentes: esta é a minha opinião. Como disse lá atrás, nasci em 1985: quando as pessoas tinham tempo para uma maior reflexão e interiorização dos aspectos da sua vida. Isso permitia-lhes um maior mergulho em si mesmas, dando-lhes espaço e margem para se descobrirem através da sua criatividade. Sim, nasciam muitas histórias na cabeça das pessoas. Hoje, queremos trazer esse processo criativo para dentro das empresas.
O storytelling em geral e o storytelling para negócios surgem aqui, como um poderoso antídoto para a superficialidade do tempo presente: são ferramentas criativas que convidam à pausa, à escuta e à identificação.
Não se esqueçam. As marcas hoje não têm produtos. Têm propósitos. E esse propósito, quando comunicado com verdade e emoção, gera confiança e fidelidade. Talvez, por isso, comece a fazer sentido falar também em marketing emocional, pois são as emoções que influenciam os processos de compra.
Exemplos de aplicação do storytelling no mundo empresarial
Marcas de chocolate
Grande tem sido a fama conquistada pelo Chocolate do Dubai, criado pela empresa Fix Dessert Chocolatier, com recheio de massa knafeh e pistachio. Esta barra de chocolate tem despertado emoções que expressam a ideia de um produto de luxo, com um sabor único (nunca visto nem provado). Este chocolate que é hoje uma sensação em todo o mundo, tornou-se viral quando foi partilhado um vídeo onde se referia que esta barra de chocolate era “uma verdadeira obra de arte”.
Negócios locais como o Azeite Castelo de Marvão
Há uns anos atrás, tive oportunidade de visitar o Lagar Museu Melara Picado Nunes, em Marvão, no Norte do Alentejo. O espaço, adquirido por Francisco Nunes (do Canto) e antigamente abastecido de energia pela azenha ou moinho da Dorna, tornou-se um lugar fundamental da aldeia onde se recriavam experiências e sensações, através do fio dourado.
Após a visita, fomos convidados a uma prova de azeite, com um bocado de pão. Várias garrafas de azeite estavam dispostas numa mesa e os visitantes tinham de adivinhar qual era o do Azeite Castelo de Marvão: um sabor único e autêntico, muito distante dos sabores industrializados dos azeites vendidos nos supermercados.
Posso garantir, que esta experiência das papilas gustativas foi uma espécie de storytelling para negócios que nos conectou à marca, de uma forma especial. Uma experiência, contada através de uma história, continua a ser a receita de sucesso para as pessoas e os seus negócios. Tanto é assim, que ainda hoje tenho um afeto especial pelo Azeite Castelo de Marvão e por todos os azeites que continuam a preservar, na sua produção, a autenticidade e uma boa história.
Como começar a usar storytelling no seu negócio e na sua vida
1. Conheça o seu público: é importante que conheça o tipo de pessoas que se conectam aos seus valores e portanto, à sua marca. Lembre-se de algo muito importante: nem todos os clientes são para nós.
2. Encontre a sua voz: quando conta uma história, como é que a costuma contar? Identifique o seu estilo. Esta é a sua voz.
3. Partilhe histórias reais: As pessoas adoram uma boa história. Qual é o seu percurso? Aborde os seus desafios, as dificuldades e as vitórias.
4. Seja autêntico: Não se trata de manipular. Trata-se de ser autêntico para se conectar com o seu público ideal.
5. Integre o storytelling em vários canais: Utilize tudo isso em seu favor para expandir a sua mensagem e os seus valores (redes sociais, website…).
Considerações finais
O storytelling em geral e o storytelling para negócios está longe de ser uma tendência passageira — é uma mudança de paradigma na forma como as marcas se relacionam com as pessoas. Vamos sempre precisar de histórias poderosas e autênticas para criar ligações com as pessoas. É isso que nos une, porque muito simplesmente, somos humanos.